Um levantamento feito em reportagem do portal G1 junto às secretarias estaduais de educação mostra que o Brasil vive um apagão no ensino público.
Segundo a reportagem, 15 dos 25 estados que implementaram o ensino à distância monitoram a adesão dos estudantes, e os índices mostram que nem todos os alunos tem acompanhado as aulas on-line. Isso indica que parte dos estudantes não estão tendo acesso à educação durante a pandemia.
Os motivos apontados pela reportagem são vários, inclusive falta de acesso à internet ou computadores. Alguns alunos tentam driblar essa limitação acessando atividades impressas ou aulas pela TV aberta, mas nesse caso é difícil saber se os estudantes estão realmente assistindo ao conteúdo.
Os dados levantados pela reportagem são alarmantes: no PI, apenas 9% dos alunos da rede estadual acompanham as aulas pela internet; Em RR e SP, mais da metade dos alunos não tem acesso aos conteúdos digitais; em 5 estados, as aulas on-line não alcançam mais do que 25% dos alunos, e em 7 estados, o ensino não chega a 15% dos estudantes.
No inicio de Junho, o MEC autorizou que as atividades remotas contem como carga horária no ano letivo. Dessa forma, os dados acendem o alerta para os estados que pretendem adotar as aulas remotas como equivalentes às aulas presenciais.
Ricardo Henriques, ex-secretário de Educação Continuada e Alfabetização do MEC afirma: “Monitorar o acesso às plataformas é muito importante. Quanto mais rápido você souber quem acessa as aulas e o que estão aprendendo, melhor será a adaptação do ensino”. Segundo ele, os dados mostram que a falta de estrutura para os alunos acompanharem o ensino on-line torna mais visível as desigualdades na educação. “Uma coisa é acessar a plataforma; outra é ter condições materiais de estudo – ter uma mesa, um espaço silencioso, bem iluminado, por exemplo”, disse.
“Como as diferenças entre alunos e escolas são estruturais, quanto mais longa for a exposição ao ensino remoto, maior será o aumento da desigualdade já existente, entre redes de ensino e dentro de uma mesma turma. É diferente ter acesso total em banda larga, em computador, ou um pedacinho do plano de dados do celular da mãe”, afirmou.
Queda no acompanhamento das aulas
A reportagem do portal entrevistou alguns professores da rede pública. Uma professora de Macaé, no Rio, afirma “Eu fico on-line na plataforma, preparo os materiais, seleciono textos, artigos, vídeos, preparo e coloco, mas o aluno não dá retorno.”
“Eu me sinto um inútil, porque não consigo avançar. Os alunos se logam tarde da noite e querem tirar dúvida, mas o horário das minhas aulas é das 7h às 12h35, quando muitas vezes não tem ninguém on-line” afirma o professor Everaldo Andrade.
“Está todo mundo confuso. A gente esperava dificuldade com equipamentos e tecnologia de pelo menos metade dos alunos, mas a outra metade tampouco está frequentando. E, da metade que se logou, 80% não entregam as atividades propostas”, afirma.
Para o professor de História e Filosofia Álvaro Dias, o ensino a distância se mostra cada vez menos inclusivo.
“Desde o começo do isolamento social e com o ensino remoto, a experiência do ensino à distância não conseguiu alcançar os resultados esperados e percebe-se um esvaziamento no processo. Seja pela falta de estrutura, pela falta de planejamento e de investimentos adequados em inovação tecnológica ou pelo excesso de atividades e conteúdos propostos. Os alunos têm demonstrando há um bom tempo desânimo, desinteresse, reduzindo drasticamente a participação nas plataformas do ensino remoto”, afirma.
Referencias: Portal G1
Foto: Reprodução