Por Francisco Mineiro
ESPADA CONTRA FUZIS – JACK, O LOUCO
Então, caríssimo leitor, continuamos a série de casos inacreditáveis, mas documentados, ocorridos em operações militares. E, dessa vez, não é um “causo”, é uma pessoa: John Malcom Thorpe Fleming Churchill, apelidado “Mad Jack”, “ou Jack Louco”, peculiar Oficial inglês que usava armas medievais. Bem se diz que a linha que separa a coragem indomável da simples loucura é um tanto tênue. O que realmente define qual é qual, é o sucesso.
Jack nasceu no Ceilão, hoje Sri Lanka, durante o domínio britânico, em 1906. Seu pai servia o governo colonial inglês, e a família Churchill viveu ainda em Hong Kong. Jack formou-se na Real Academia Militar de Sandhust, em 1926, indo servir em Rangun, Birmânia. Designado para um curso em Poona, oeste da Índia, o aventureiro fez a viagem de 2.400 km em uma motocicleta Triumph, e voltou em bicicleta, por trilhas e estradas de terra. Na viagem, acidentou-se ao atropelar um imenso búfalo asiático. Fez diversas viagens pela região em bicicleta, atravessando selvas e pedalando sobre ferrovias.
Em 1936 retornou à vida civil, trabalhando como jornalista em Nairobi, Quênia, e depois como ator e modelo, na Inglaterra. Suas habilidades com a gaita de foles e como arqueiro lhe deram papéis em diversos filmes, inclusive em “O ladrão de Bagdá”, de 1941, vencedor de três “Oscar”. Ainda, representou a Inglaterra no Campeonato Mundial de Tiro com Arco de 1939.
Com declaração de guerra à Alemanha nazista, Jack Churchill retornou ao Exército, integrando o Regimento Manchester. Jack conduzia para as operações militares sua gaita de foles, arco longo e espada “claymore”. Sua frase mais famosa é “O oficial que entra em ação sem sua espada, está vestido de forma inadequada”. A lendária “claymore” faz parte da tradição escocesa, caracterizando-se pelo grande tamanho.
Na batalha de l’Epinette, na França, Jack estava com sua companhia quase cercada. Ele matou o nazista na vanguarda do ataque com uma flechada certeira, e depois descarregou duas metralhadoras, protegendo o retraimento de sua tropa. No episódio da retirada de Dunquerque, a tropa de Jack atacou várias patrulhas alemãs, para proteger a saída dos aliados. Na ação, Churchill foi ferido por um tiro de metralhadora. Voltando para a Inglaterra, soube que estava sendo criada uma tropa que lhe servia com perfeição: os Commandos, soldados altamente treinados para atuar de forma precisa e letal, em pequenos grupos, dentro território inimigo.
O desumano treinamento para a tropa de comandos, realizado na Escócia, trouxe algo bom para a vida de Jack: lá ele conheceu Rosamund, sua esposa e companheira de toda a vida.
A pioneira operação com a tropa de comandos foi no porto de Vaasgo, Noruega. Jack estava na primeira lancha de desembarque, e navegou para a praia tocando sua gaita de foles. Desembarcou atirando flexas e depois granadas, trazendo confusão aos defensores alemães. Sua tropa conseguiu silenciar a artilharia, e o porto foi conquistado.
Mais tarde, na Sicília, Itália, rendeu um sentinela alemão com sua assustadora espada, e, usando o infeliz soldado como escudo humano, rendeu toda a guarnição, como num filmes de ação. Foram 42 nazistas aprisionados… com uma espada.
Na Iugoslávia foi capturado, depois de nocauteado por uma granada. Fugiu de três campos de prisioneiros, na última vez caminhando 240 km pela Itália até encontrar tropas amigas.
Foi enviado à Birmânia, mas a Guerra terminou antes que fizesse mais alguma loucura. Entre sério e brincando, disse a um amigo: “se não fossem esses malditos ianques, ainda teríamos uns dez anos de guerra”… Existem filmes do Exército inglês mostrando Churchill em ação.
Mad Jack formou-se paraquedista militar aos 40 anos. Tirou uma licença para atuar como arqueiro no famoso filme “Ivanhoé”. Em 1948, foi integrar as últimas tropas britânicas na Palestina, nos conflitos que envolveram a formação do Estado de Israel. Comandou uma tropa que protegeu a evacuação de 700 médicos e pacientes judeus cercados por batalhões hostis.
Foi instrutor paraquedista na Austrália, onde conheceu outra paixão: o surfe. Projetou e fabricou pranchas, e, de volta à Inglaterra, inventou uma que lhe permitia surfar na maré do rio Svern. Foi para a reserva como Tenente-Coronel em 1959, mas continuou a trabalhar no Ministério da Defesa, supervisionando a instrução de Cadetes de Londres.
Quando aposentou, passava o tempo navegando em um iate a vapor, com sua Rosamund, ou fazendo modelos de navios militares com controle remoto. Faleceu em 1996.
Assim como nascem brilhantes cientistas ou artistas notáveis, também existem homens que vem ao mundo talhados para o nobre e terrível ofício da guerra. Jack, o Louco, era um destes.
Até a próxima, amigos.