O governo resolveu adiar a nomeação do novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, após várias incoerências descobertas em seu currículo. A posse estava marcada para terça-feira ( 30 ), às 16 horas, mas o planalto avisou que ela não ocorrerá nesta data. Segundo apuração do jornal Estadão, após as denuncias contra Decotelli, o governo está repensando se irá mantê-lo ou não.
Decotelli perdeu apoio do próprio grupo militar que o indicou, surpreendidos pelas revelações que surgiram nos últimos dias. Ele também perdeu apoio entre professores da FGV. Além disso, a ala mais ideológica do governo tenta derruba-lo antes mesmo de assumir.
Desde que foi anunciado como novo ministro no lugar de Weintraub, Decotelli teve várias informações do seu currículo questionadas. Ao anunciar o nome do novo ministro, em post nas suas redes sociais, Bolsonaro anunciou sua formação: “Decotelli é bacharel em Ciências Econômicas pela Uerj, Mestre pela FGV, Doutro pela Universidade de Rosário, Argentina, e Pós-doutor pela Universidade de Wuppertal, na Alemanha”. Porém no dia seguinte ao anuncio, Franco Bartolacci, reitor da Universidade Nacional de Rosário, afirmou que Decotelli cursou doutorado na instituição, mas não havia concluído, tendo sua tese rejeitada.
No sábado ( 26 ) outra informação de seu currículo foi questionada. O economista Thomas Conti postou, no Twitter, que havia possíveis indícios de plágio na dissertação de mestrado de Decotelli. Conti citou trechos idênticos a um relatório do Banrisul para a Comissão de Valores Mobiliários ( CVM ) . A FGV anunciou que irá investigar o caso.
O pós-doutorado do novo ministro também foi questionado, após a universidade fornecer informações diferentes das que estão no currículo de Decotelli. Além disso, Decotelli não poderia ter o título de pós-doutor sem ter concluído, com êxito, o doutorado.
O MEC, por meio de nota divulgada em seu portal, respondeu afirmando que o ministro cursou o doutorado na instituição argentina no período de 2 de outubro de 2007 a 7 de fevereiro de 2009, sendo aprovado em todas as disciplinas. Porém sua tese de doutorado não teve a defesa autorizada.
Veja na integra:
O Ministério da Educação, com relação aos questionamentos levantados a respeito da formação acadêmica do Ministro Carlos Alberto Decotelli da Silva, esclarece que o ministro cursou o Doutorado em Administração na Universidade de Rosário, na Argentina, no período de 2 de outubro de 2007 a 7 de fevereiro de 2009, tendo sido aprovado em todas as disciplinas com todos os créditos, conforme atesta o certificado emitido pela Universidade.
O ministro informou ainda que tem muito orgulho do curso realizado, principalmente por ter sido custeado com seus próprios recursos financeiros e pelo fato de ter sido aceito em tão respeitada instituição de ensino no exterior unicamente em função de sua qualificação acadêmica, construída ao longo da vida com muito esforço e dedicação.
Ao final do curso, apresentou uma tese de doutorado que, após avaliação preliminar pela banca designada, não teve sua defesa autorizada. Seria necessário, então, alterar a tese e submetê-la novamente à banca. Contudo, fruto de compromissos no Brasil e, principalmente, do esgotamento dos recursos financeiros pessoais, o ministro viu-se compelido a tomar a difícil decisão de regressar ao país sem o título de Doutor em Administração.
Tendo trabalhado como professor de gestão de riscos em derivativos no agronegócio em vários cursos no Brasil, construiu um projeto de pesquisa intitulado “Sustentabilidade e Produtividade na automação de máquinas agrícolas”, que foi submetido à Bergische Universitat Wuppertal, na Alemanha, tendo por base pesquisa específica que teve o apoio da empresa Krone (www.krone.de). A universidade alemã aceitou apoiar o projeto, considerando a relevância do tema, a conclusão e a aprovação em todos os créditos obtidos no curso de Doutorado em Administração na Universidade de Rosário e seus 30 anos de atuação como conceituado professor no Brasil. A pesquisa, que foi orientada pela Dra. Brigitte Edith Ursula Wolf e pelo Dr. Siegfried Maser, foi concluída e publicada em 10 de outubro de 2017. Ressalta-se que, por questões de sigilo em relação aos dados da citada empresa, o acesso ao texto integral da pesquisa está disponível apenas por meio de visita presencial ao cartório de registros acadêmicos na cidade de Koln, na Alemanha.
Em abril de 2017, recebeu documento que atesta o registro de seu trabalho. O ministro ressalta que não recebeu títulos em decorrência desta pesquisa.
De forma a dirimir quaisquer dúvidas, o ministro já efetuou os devidos ajustes em seu currículo, que, em breve, estarão refletidos nas principais plataformas de divulgação de dados profissionais.
Com relação às ilações sobre plágio na dissertação de mestrado intitulada “BANRISUL: do PROES ao IPO com governança corporativa”, apresentada em 2008 à Fundação Getúlio Vargas (FGV), o ministro refuta as alegações de dolo, informa que o trabalho foi aprovado pela instituição de ensino e que procurou creditar todos os pesquisadores e autores que serviram de referência e cujo conhecimento contribuiu sobremaneira para enriquecer seu trabalho. O ministro destaca que, caso tenha cometido quaisquer omissões, estas se deveram a falhas técnicas ou metodológicas. Informa também que, ainda assim, por respeito ao direito intelectual dos autores e pesquisadores citados, revisará seu trabalho e que, caso sejam identificadas omissões, procurará viabilizar junto à FGV uma solução para promover as devidas correções.
O ministro informou ainda que este trabalho teve respaldo no período de março de 2004 a dezembro de 2010, quando foi responsável pela capacitação de mais de 3.000 profissionais do BANRISUL, tendo agregado esta vivência profissional e seu conhecimento da cultura do Banco como base de referência para a construção da dissertação, agregando informações públicas disponíveis em sites públicos e privados pertinentes aos relatórios e informações de empresas S.A. de capital aberto.
*Com informações do Estadão
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