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Entre trotes e trânsito, Samu corre contra o tempo na missão diária de salvar vidas

No trânsito, quando uma sirene toca, a apreensão: alguém está precisando de ajuda. Entre carros e motos, na loucura do trafego de cada dia, lá está o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), levando vida a quem precisa de socorro, urgente.

Quem já precisou utilizar o Samu em Campo Grande, ou em qualquer lugar do país, sabe a importância da agilidade e eficiência nos trabalhos, em momentos cruciais, onde cada minuto faz diferença. Mas você já parou pra pensar no trabalho realizado por este profissional? Conhecendo um pouco mais desta realidade, você vai perceber que as dificuldades vão desde o trânsito, até a problemas pequenos, e comportamentais, como o trote.

Somente nos últimos três anos, foram 49.724. Destes, muitos de orelhões instalados em frete a escolas. “A gente identifica aqui 90% dos trotes, sem precisar deslocar a ambulância, mas atrapalha muito desde aqui de dentro, porque está ocupando o atendente, ou o médico, que já começa a prestar o atendimento e depois que vai descobrir que é trote. E em casos extremos até o envio de viatura”, relata o coordenador do SAMU, drº Ricardo Alves Rapassi.

Mesmo com as dificuldades, o Samu resiste e quem precisou não esquece. José Carlos Mendonça é grato pelo atendimento que o filho recebeu em um acidente de moto. “No dia 15 de maio, por volta das 18 horas, meu filho sofreu um acidente na Avenida Eduardo Elias Zahran. A equipe do Samu o atendeu com muita competência e agilidade, o que foi fundamental para salvar a vida do meu filho. Não sei nem o que dizer para expressar minha gratidão”, relatou.

Quem também fez questão de agradecer foi Marisa Rolam. Ela contou que o Samu transportou um familiar ao Hospital da Unimed em 28 de janeiro deste ano e a cordialidade e profissionalismo de todos a marcaram. “Eles foram muito rápidos e cordiais. Acolheram a gente muito bem. Só tenho a agradecer”, afirmou.

Marcel Nobre está do outro lado. É dele a missão de correr, contra o tempo, contra o trânsito, para levar vida a quem se acidentou. Ele é formado na primeira turma de motosocorristas do Samu e fala com orgulho de sua atuação e contribuição para salvar vidas.

“Vamos para quatro anos de serviço reativado. Corremos diariamente a cidade para ajudar as pessoas que precisam de atendimento, com muita dedicação, orgulho e força de vontade. Superamos os riscos, o trânsito violento, o clima… São muitos os obstáculos que enfrentamos, mas a certeza de ajudar, de dar o nosso máximo, enche de honra e orgulho”, disse.

Nos últimos quatro anos e meio, a Prefeitura de Campo Grande, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, vem trabalhando para que este atendimento seja cada vez melhor. Hoje são, aproximadamente, 10 elogios por mês. Para manter números positivos, em 2017, o serviço de motolância, que estava parado, foi reativado. Já a frota de ambulâncias foi totalmente renovada em 2019. Atualmente, o Samu conta com quatro viaturas avançadas, dez básicas, duas motolâncias, todas em operação. Há ainda a reserva técnica, que é quando uma viatura vai para manutenção outra substitui para não parar o atendimento.

“Com isso, conseguimos fazer uma manutenção preventiva, o que dá mais segurança para os servidores e durabilidade para o veículo. Entregando um serviço melhor para a população”, explicou o coordenador do SAMU, drº Ricardo Alves Rapassi.

Regionalizado, o Samu atende Campo Grande e mais 11 cidades (Sidrolândia, Terenos, Aquidauana, Anastácio, Corumbá, Ladário, Ribas do Rio Pardo, São Gabriel do Oeste, Rio Verde de MT, Camapuã e Coxim) prestando socorro à população em residências, locais de trabalho e vias públicas. Conta ainda com uma equipe multiprofissional, composta por técnicos auxiliares de regulação médica, operadores de frota, condutores-socorristas, técnicos em enfermagem, enfermeiros e médicos, todos capacitados em urgências de natureza traumática, clínica, pediátrica, obstétrica e psiquiátrica.

Motolância

Para fazer os atendimentos, os socorristas utilizam todos os equipamentos de proteção individual necessários, como capacete, luva, colete especial com sistema de airbags, joelheiras e protetor de tórax, e levam todo o material necessário para iniciar o atendimento. Tem kit de oxigênio, kit de intubação, de vários procedimentos. A equipe, que é formada por enfermeiros e técnicos de enfermagem, já desce no local com tudo para não perder tempo, porque quando se tem um caso grave, é primordial que já se inicie o atendimento o quanto antes.

Doadas pelo Ministério da Saúde em 2009, as motolâncias estavam paradas até 2017 e passíveis de devolução se não iniciassem a operacionalização. Marcel Nobre explica ainda que para ser motosocorrista precisa participar de um curso especifico para pilotagem de moto, e somente depois entra para a equipe.

“Nós fizemos este curso com a PMMS, com o pessoal da BPtran. Somente depois do curso estamos apto para fazer a pilotagem. Hoje temos dez profissionais que compõem a equipe de motosocorristas, sendo quatro enfermeiros e seis técnicos de enfermagem. A finalidade da moto é dar suporte, no menor tempo resposta possível, em situações que é primordial a necessidade de mais rapidez”, salientou.

Para ele, hoje o desafio é explicar para a população o que é a motolância, o que é este atendimento. “Não é que não será enviada uma ambulância, nós vamos na frente. A vantagem é que conseguimos triar melhor a cena do evento. Então, às vezes, temos uma ocorrência que entrou como um acidente de múltiplas vidas, e quando a gente chega lá vê que não é assim, que uma pessoa só, que não precisa do apoio de uma ALPHA (ambulância com médico, enfermeiro e socorrista), só de uma BRAVO (unidade de suporte básico), que vai um técnico e um socorrista, por exemplo”, explicou.

Isso melhora os atendimentos, já que na pandemia, o número mais que dobrou, passando de uma média de 20 a 25 atendimentos, para 70 no período mais crítico.

“Muitos atendimentos de pessoas com sintomas de Covid pedindo transporte para o hospital. Chegamos a fazer 70 transportes em um dia, sendo uns 70% só de Covid. A população percebeu o quanto trabalhamos nessa época e apesar da tristeza do que todos passamos, as pessoas passaram a enxergar o que é o trabalho da saúde e que é a força humana que faz tudo andar”, finalizou o coordenador do Samu.