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Deputado bolsonarista manda MP investigar Magazine Luiza por racismo, e empresa rebate

Após críticas de brancos ao programa de trainee do Magazine Luiza exclusivo para candidatos negros, políticos estão usando a máquina pública para impedir a ação da rede varejista de inclusão social, interpretada por algumas pessoas como “racismo reverso”, expressão que não existe.

O deputado federal bolsonarista Carlos Roberto Coelho de Mattos Júnior (PSL-RJ), conhecido como Carlos Jordy, informou no Twitter que está representando ao Ministério Público o Magazine Luiza para que seja apurado crime de racismo no caso do programa de trainee só para negros. Segundo o parlamentar, a lei 7.716/89 tipifica a conduta daquele que nega ou obsta emprego por motivo de raça.

O perfil do Magazine Luiza na rede social, representado por uma mulher fictícia (Lu), rebateu o deputado: “Estamos absolutamente tranquilos quanto a legalidade do nosso Programa de Trainees 2021. Inclusive, ações afirmativas e de inclusão no mercado profissional, de pessoas discriminadas há gerações, fazem parte de uma nota técnica de 2018 do Ministério Público do Trabalho”.

Frederico Trajano, CEO da loja, seguiu a mesma linha de argumentação em carta divulgadas nas redes sociais da empresa.

“Entramos em um processo de meses de reflexão coletiva. Falamos com juristas, representantes do Ministério Público do Trabalho, associações que combatem o racismo, especialistas em recursos humanos. Conversamos com muita gente, fora e dentro do Magalu. E chegamos, finalmente, à conclusão de que nosso programa de trainee 2021 deveria envolver apenas candidatos negros”, explicou.

O vereador Fernando Silva Bispo (Patriota-SP), que adotou o nome Fernando Holiday e notório crítico de campanhas antirracistas, publicou que também acionará o MP contra o programa de trainees exclusivo para negros da rede varejista.

A loja e a palavra “racismo” ficaram entre os assuntos mais comentados no Twitter no último sábado (19). Parte da repercussão foi provocada por quem tentou explicar por que “racismo reverso”, ou seja, contra brancos, não existe. Famosos como o ator Babu Santana e a filósofa Djamila Ribeiro participaram da manifestação.

Por definição, racismo reverso ocorreria quando uma pessoa branca é discriminada por sua cor, direta ou indiretamente, como acontece frequentemente com pretos, pardos e asiáticos.

Atualmente, o Magazine Luiza tem em seu quadro de funcionários 53% de pretos e pardos. Mas apenas 16% deles ocupam cargos de liderança, por isso abriu processo seletivo para treinar negros em postos superiores. Funcionários da empresa também podem se candidatar ao processo seletivo.

Segundo a empresa, o programa de trainees lançado nesta sexta-feira é o primeiro exclusivo para negros do Brasil. Ele foi desenvolvido em parceria com as consultorias Indique Uma Preta e Goldenberg, Instituto Identidades do Brasil, Faculdade Zumbi dos Palmares e Comitê de Igualdade Racial do Mulheres do Brasil.

“O objetivo do Magalu com o programa é trazer mais diversidade racial para os cargos de liderança da companhia, recrutando universitários e recém-formados de todo Brasil, no início da vida profissional”, informou a empresa, em comunicado.

Conforme a companhia, serão aceitos candidatos formados de dezembro de 2017 a dezembro de 2020, em qualquer curso superior. Conhecimento de inglês e experiência profissional anterior não são pré-requisitos para a seleção.

O salário é de R$ 6,6 mil, com benefícios e bônus de contratação de um salário.

Candidatos de todo o país podem participar, desde que tenham disponibilidade para se mudar para São Paulo. Caso o selecionado seja de fora da cidade, receberá um auxílio-mudança.

“O Magazine Luiza acredita que uma empresa diversa é uma empresa melhor e mais competitiva”, diz Patrícia Pugas, diretora executiva de gestão de pessoas, em comunicado. “Queremos desenvolver talentos negros, atuar contra o racismo estrutural e ajudar a combater desigualdade brasileira.”

De: Yahoo, foto: Divulgação