Polícia

Delegados e investigadores testemunham violência e dopagem de bebê em creche clandestina: Prisão preventiva de proprietária é mantida

Delegados e investigadores de Naviraí testemunharam, ao vivo, um bebê de 11 meses sofrendo agressões físicas e psicológicas em uma creche clandestina. Além disso, presenciaram a criança sendo dopada. Diante da violência e do perigo que as crianças enfrentavam nas mãos de Caroline Florenciano dos Reis Rech, de 30 anos, a equipe da Polícia Civil decidiu invadir o local.

Segundo o registro no auto de prisão em flagrante da proprietária do estabelecimento, chamado de “Cantinho da Tia Carol”, e de uma funcionária, a DAM (Delegacia de Atendimento à Mulher) de Naviraí, que estava investigando o caso de maus-tratos, obteve autorização judicial para instalar câmeras secretas na creche.

A equipe de Inteligência da Polícia Civil iniciou o monitoramento à distância às 6h desta segunda-feira (10). Além dos investigadores, a delegada Sayara Quinteiro Martins Baetz, responsável pelo caso, e o adjunto do Departamento de Inteligência Policial, Gustavo Adolpho Bianchi Ferrari, acompanhavam o que acontecia com as crianças.

De acordo com o relato policial, “logo no início da operação, às 10h35, a suspeita Caroline agrediu fisicamente uma bebê, posteriormente identificada como uma menina de 11 meses”. Segundo a descrição, por meio do monitoramento em tempo real, foi possível observar que a criança estava sozinha em um colchão no chão e havia saído do local, momento em que a cuidadora a pegou e a jogou de volta no acolchoado.

“A violência empregada por Caroline foi perceptível, assim como sua intenção de punir a pequena criança devido ao choro”, registrou a delegada Sayara Baetz no documento.

Minutos depois, às 10h48, a menina voltou a chorar e foi novamente agredida. Como o equipamento instalado no “Cantinho da Tia Carol” registrava imagens e áudio, conforme constatado, a suspeita insultou a criança, chamando-a de “sem vergonha” e comentou com a funcionária que, quando ela começasse a andar, “estariam encrencadas”.

A bebê continuou chorando sozinha, mas logo parou. Nesse momento, uma equipe da DAM foi enviada para ficar de prontidão próximo à creche, caso fosse necessária uma intervenção rápida.

Os policiais que permaneceram na delegacia perceberam que as imagens não estavam sendo gravadas e, devido à necessidade de coletar provas, técnicos foram chamados para resolver o problema.

Enquanto assistiam às câmeras, eles estranharam que a menina ficou parada por muito tempo, não tentando se levantar do colchão, engatinhar ou se arrastar, aparentando estar dopada. Às 12h45, a funcionária de Caroline foi vista dando remédio para a bebê, que logo adormeceu.

A equipe de monitoramento também observou que as duas mulheres passavam o tempo todo sentadas, mexendo em seus celulares, sem prestar atenção nas outras crianças presentes no ambiente.

Mesmo constatando que grande parte das cenas não havia sido gravada, os policiais decidiram invadir o local e prender a dupla. Eles encontraram duas meninas de 7 anos, além de dois bebês, um menino de 1 ano e 9 meses e uma menina de 1 ano.

“Os bebês estavam com fome e foram alimentados pela equipe policial”, registrou também a delegada. A perícia foi acionada, assim como o Conselho Tutelar. No local, um frasco de Dramavit, um medicamento para enjoo, vômito e tontura com efeito sedativo, foi apreendido. A cuidadora confessou à equipe que havia dado 20 gotas do medicamento para a bebê de 11 meses, uma dose provavelmente muito superior à necessária, já que a recomendação na bula é de uma gota para cada 1 kg. O medicamento também não é indicado para crianças menores de 2 anos.

Conforme o registro, apenas as imagens após as 10h54 foram gravadas, mas a cena em que Caroline segura a garotinha pelos cabelos e a joga no colchão foi armazenada, assim como o momento em que a criança é medicada pela funcionária, que afirmou, em depoimento, ter administrado a dose ordenada pela patroa para fazê-la dormir.

“Considerando todos os fatos expostos, verificou-se que a bebê de 11 meses apenas por acorda de um sono aparentemente induzido, provavelmente por necessidades fisiológica, como alimentação ou troca de fralda, e por chorar, maneira com a qual pode se comunicar, já que ainda não tem capacidade de falar, era castigada. Sendo submetida a verdadeira sessões de tortura”, constatou Sayara Baetz.”

A responsável pelo inquérito afirma que “também foi possível perceber um sofrimento mental, ainda pior, pois não deixava marcas visíveis, já que a cuidadora Caroline insultava e menosprezava a criança, torturando-a e a deixando chorando sozinha”.

Prisão preventiva – Carol, como é conhecida, se apresentou à polícia como profissional do sexo e já possui histórico criminal. No final da tarde desta terça-feira (11), o juiz Paulo Roberto Cavassa de Almeida decidiu manter a proprietária da creche presa para “garantir a ordem pública, considerando a gravidade concreta dos fatos, evidenciada pela violência contra as crianças”.

O juiz acredita que a suspeita pode cometer outros crimes se for solta. “A indiciada possui um extenso histórico criminal que indica ser uma pessoa de má índole, perigosa e com possibilidades concretas de reincidência criminosa. Além disso, levando em consideração a facilidade potencial de acesso tanto às crianças, que ainda não foram submetidas a exames periciais, quanto aos respectivos familiares, mantê-la em liberdade, pelo menos por enquanto, seria uma medida temerária. Portanto, é necessário afastá-la cautelarmente do convívio social, não sendo vislumbrada qualquer outra medida cautelar que seja suficiente e adequada”.

A funcionária pagou fiança no valor de R$ 1.320,00 (equivalente a um salário mínimo) e deixou a delegacia, mas o juiz registrou que poderá “reexaminar” a ideia de permitir que ela responda ao inquérito e ao processo em liberdade.

A reportagem tentou entrar em contato com Caroline por meio do número de celular fornecido por ela em anúncios de vagas para a creche, mas ninguém atendeu. Uma mensagem foi deixada na caixa postal. Além disso, o espaço permanece aberto para manifestações da defesa ou da investigada.

Foto: PCMS/Divulgação