O advogado Cláudio Gastão da Rosa Filho, que defendeu André de Camargo Aranha da acusação de estuprar a promoter Mariana Ferrer em uma festa em 2018, justificou que estaria “exercendo seu papel” para explicar sua postura em uma das audiências do processo.
Na reunião, realizada por videoconferência e divulgado pelo site The Intercept Brasil, o advogado mostra fotos de Mariana Ferrer, publicadas nas redes sociais antes do caso e que não têm relação com o processo. “Peço a Deus que meu filho não encontre uma mulher como você. Teu showzinho você vai lá dar no teu Instagram, para ganhar mais seguidores. Você vive disso.”
“Tu trabalhava no café, perdeu emprego, está com aluguel atrasado sete meses, era uma desconhecida. É seu ganha-pão a desgraça dos outros”. Em outro ponto, Gastão mostra outra fotografia de Mariana Ferrer. “Essa foto extraída de um site de um fotógrafo, onde a única foto chupando o dedinho é essa aqui, e com posições ginecológicas.”
Procurado, o advogado criminalista alegou que as falas exibidas foram descontextualizadas. “Foi uma audiência longa, pegaram a minha fala descontextualizada e editada e tentaram me pintar como se eu tivesse desrespeitando uma suposta vítima de estupro e, na verdade, eu estava exercendo o meu papel”, disse Gastão, ao jornal O Globo.
CNJ VAI ANALISAR CONDUTA
Na noite de terça-feira (3), o conselheiro do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) Henrique Ávila entregou uma representação para que a Corregedoria do órgão analise a conduta do juiz e do membro do Ministério Público que atuaram no caso.
Na representação enviada ao CNJ, Henrique Ávila escreve que “em virtude da gravidade dos fatos veiculados pela imprensa, venho à presença de Vossa Excelência requerer a imediata abertura de Reclamação Disciplinar para a imediata e completa apuração da conduta do Juiz de Direito Rudson Marcos, do TJSC, na condução do processo criminal movido pelo MPSC contra André de Camargo Aranha pela imputação de suposto crime de estupro de vulnerável em que consta como vítima Mariana Ferrer”.
O conselheiro do CNJ também citou a audiência do caso, revelada pelo The Intercept Brasil, e disse que a vítima é submetida a “tortura psicológica”. Na representação, Ávila cita trechos do vídeo da audiência, que chama de “chocantes”.
“As chocantes imagens do vídeo mostram o que equivale a uma sessão de tortura psicológica no curso de uma solenidade processual”, diz o conselheiro do CNJ.
“A vítima, em seu depoimento, é atacada verbalmente por Cláudio Gastão da Rosa Filho, advogado do réu. Fotos da vítima são classificadas como ‘ginecológicas’; seu choro, como ‘dissimulado, falso’; sua exasperação, como ‘lagrima de crocodilo”. Afirma o advogado que não deseja ter uma filha ou que seu filho se relacione com alguém do ‘nível’ da vítima e que o ‘ganha-pão’ da vítima é a ‘desgraça dos outros’”, conclui o conselheiro.
MP LAMENTA POSTURA, E NEGA ‘ESTUPRO CULPOSO’
O Ministério Público de Santa Catarina também se manifestou sobre o caso Mariana Ferrer. O MPSC negou que a Promotoria tenha indicado a absolvição do réu por “estupro culposo” e lamentou a postura do advogado de defesa do empresário.
“Não é verdadeira a informação de que o Promotor de Justiça manifestou-se pela absolvição de réu por ter cometido estupro culposo, tipo penal que não existe no ordenamento jurídico brasileiro”, inicia o comunicado do MPSC, destacando que ele “interveio em favor da vítima em outras ocasiões ao longo do ato processual, como forma de cessar a conduta do advogado, o que não consta do trecho publicizado do vídeo”.
Quanto à conduta do advogado Claudio Gastão da Rosa Filho, o MPSC lamentou, dizendo que a postura adotada por ele não é o que se espera “dos profissionais do Direito envolvidos em processos tão sensíveis e difíceis às vítimas”.