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Artesãos sul-mato-grossenses participam de rodada de negócios na Capital

Mais do que trabalhos manuais, o artesanato é símbolo de preservação cultural e de desenvolvimento econômico, agregando valor as identidades tradicionais do estado e, sobretudo, garantindo o sustento das comunidades. Para impulsionar essa prática e valorizá-la, aconteceu nesta quinta-feira (21), a Rodada de Negócios na sede do Sebrae/MS, em Campo Grande. A iniciativa é uma realização do Sebrae/MS em parceria com o Governo do Estado, por meio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS) e integra a programação da 16ª edição da Semana do Artesão.

A rodada de negócios tem como objetivo ajudar os empreendedores a ampliar o mercado e disseminar os produtos para fora do estado, fortalecendo assim, o turismo do Mato Grosso do Sul nacionalmente. De acordo com a coordenadora de projetos de Turismo do Sebrae/MS, Isabella Fernandes Montello, ações como essas expandem dão mais visibilidade aos produtos locais.

“Percebemos que além de uma semana comemorativa, seria legal que tivessem ações de negócios para impulsionar esses artesãos. Essa ação abre, em geral, uma série de outras ações que fazemos com esse segmento e com a parceria da Fundação de Cultura no decorrer do ano. Ações de comercialização, de feira, a participação em eventos nacionais. Isso tudo fazemos para que os artesãos consigam levar o produto para mercados nacionais”, ressalta a coordenadora.

Através da ação, os participantes tiveram a oportunidade de fazer networking, vendas e ter acesso a novos mercados. “É a primeira vez que participo, estou achando muito interessante, né? Poder conhecer, divulgar o meu trabalho, trocar experiências, porque as pessoas que estão aqui já conhecem esse setor e valorizam”, relata a artesã Elizabeth da Silva, dos povos indígenas Kadiwéu, de Porto Murtinho. Ela produz objetos de cerâmica há anos e chegou ao evento por meio da Casa do Artesão, onde comercializava seus produtos.

Além de impulsionar os artesãos, a ação conecta o produtor ao consumidor trazendo lojistas nacionais, comerciantes que possuem interesse nos produtos da cultura sul-mato-grossense e que vem especialmente para conhecer, comprar e levar as peças a outros horizontes. “Temos um potencial turístico legal no estado, nós atraímos vários turistas, mas, na verdade, a maior parte do mercado turístico ainda fica concentrado no eixo do Rio de Janeiro/São Paulo. E o que fazemos é justamente trazer comerciantes que têm espaço de varejo nesses mercados para comprar o artesanato sul-mato-grossense, levando o acesso a turistas que ficam ali naquele eixo”, explica Isabela Fernandes Montello.

Queila Cruz e Luciano Soares são um casal de artesãos de Terenos, proprietários do Ateliê Coité – Arte Cerâmica, que oferece produtos de cerâmica de alta temperatura, tigelas, canecas, pratos, chaleiras, fruteiras, decorações, entre outros. Eles participaram da rodada pela segunda vez e destacam a oportunidade de receber um feedback dos lojistas. “Eu acho interessante quando a gente tem feedback dos lojistas, porque eles ressaltam os pontos positivos, mostram também pontos que poderíamos melhorar se fizéssemos de tal maneira, né? Podemos consultar também como melhorar na quantidade de peças e no valor. A gente produz, mas ter um retorno de quem vende é essencial, né? Então, isso ajuda muito”, afirma Queila.

Além de feedback e compra das peças, os lojistas também têm papel importante na busca de materiais para a produção. A ceramista Dayara Marques trabalha com a fabricação de bonecas e vê vantagem em participar da rodada. “Já participei de muito curso aqui, para me especializar cada vez mais. A participação melhora o contato com o lojista, que fazem encomenda para a gente. Então, ajuda na nossa renda, porque, às vezes, a gente tem pouca mercadoria daqui e eles encomendam as peças para a produção”, explica Dayara Marques.

Desenvolvimento econômico

Para chegar ao ofício do artesanato, muitas vezes, o caminho é único. Alguns já possuem o conhecimento ou a habilidade, e acabam por usufruir disso para criar os produtos e comercializá-los, tornando esse meio uma fonte de renda. Como o indígena da etnia Terena, Sullivan Barros, da Aldeia Limão Verde, localizada no município de Aquidauana. Com cultura, tradição e sustentabilidade, Sullivan produz artesanato com uso de sementes, fabricando colares, pulseiras, brincos e outros acessórios.

“Eu comecei a mexer com artesanato quando tinha sete anos, sempre tive essa criatividade de fabricar acessórios. Quando fiquei mais velho entrei de fato para a arte indígena e hoje participo dos eventos. Fui convidado para sair da minha aldeia e expor meus produtos aqui, isso me ajuda a divulgar também a cultura do meu povo”, relata Sullivan. Cocares e brincos de penas também fazem parte do portfólio do Terena que, com orgulho, veste as próprias peças.

Outros empreendedores chegam nesse setor por necessidade financeira e desafios de adaptação ao mercado, buscando aprender uma atividade nova e transformá-la em fonte de renda. Esse é o caso de Udisson Silva, dono da Udi Artes, um ateliê de artesanato de peças feitas através da manipulação de metais descartados. “Por causa de um acidente de motocicleta, eu operei o joelho três vezes e tive que buscar uma forma continuar trabalhando nesse tempo. Fui inventando, né? Eu já mexi, há 20 anos, com fundição em panelas, então eu estudei peças menores para eu poder fabricar e aprendi. É a primeira vez que participo de um evento, estou achando muito legal. As pessoas chegam para conhecer o produto e acabam se interessando nas peças”, explica o artesão.

Luciana Santos, dona da Alecrim Cosméticos, uma loja de sabonetes e cosméticos naturais, também encontrou na produção artesanal uma solução financeira. “Na pandemia eu tive que me reinventar, porque eu fechei o meu espaço, então eu comecei a fazer sabonetes. Dos sabonetes, eu comecei a ir para a Feira Bosque da Paz em 2021 e depois eu não parei mais”.

A produção ainda não se tornou a principal fonte de renda de Luciana, mas ela afirma que essa é a intenção e as ações promovidas em prol dos artesãos são essenciais para que isso aconteça. “Os eventos são excelentes, porque são técnicos, propícios para a gente mostrar o nosso produto, eles trazem para nós a fidelização do cliente e a confirmação que o cliente gosta dos nossos produtos. Campo Grande tem muito artesanato, tem muito para expandir, e a rodada, a semana do artesão são métodos de ampliar esse mercado. O que eu puder participar, vou participar”, ressalta a cosmetologista.

A ação contou com 30 artesões de todo o estado e 13 lojistas. Após o término, o caminhão da Fundação de Cultura foi disponibilizado para levar para São Paulo os produtos e, assim, efetivar a meta de disseminar o artesanato de Mato Grosso do Sul para outro eixo.