A Armênia acusou o Azerbaijão de ter bombardeado a principal cidade de Nagorno Karabakh, Stepanakert, no sexto dia de violentos combates nesta região separatista, apesar do fato de as autoridades de Yerevan terem dito que estavam dispostas a trabalhar para um cessar-fogo com os países mediadores.
Ao mesmo tempo, a Turquia está recebendo críticas internacionais segundo as quais enviou “jihadistas” em apoio ao Azerbaijão, o que pode significar uma virada perigosa neste conflito.
De acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), pelo menos 28 combatentes pró-turcos, dos 850 enviados para ajudar as tropas do Azerbaijão, morreram desde o início das hostilidades.
O presidente russo, Vladimir Putin, sem acusar diretamente a Turquia, expressou “sérias preocupações” sobre a suposta presença de jihadistas em Karabakh, durante uma reunião com o primeiro-ministro armênio, Niko Pashinyan.
Esta manhã, em um comunicado, a diplomacia armênia iniciou uma abertura tímida, ao afirmar que está pronta para “discutir com os países que copresidem o grupo de Minsk da OSCE para restabelecer um cessar-fogo”, em referência aos mediadores (EUA, França e Rússia) do conflito.
Após este primeiro gesto no sexto dia de hostilidades, Baku ressaltou que o conflito tem apenas um resultado: a retirada armênia de Nagorno Karabakh, uma região do Azerbaijão habitada principalmente por armênios e que se separou com a queda da URSS.
“Se a Armênia quer ver o fim dessa escalada (…) deve acabar com a ocupação”, declarou à imprensa Hikmet Hajiyev, assessor da presidência do Azerbaijão.
Esses anúncios acontecem no dia seguinte a uma declaração conjunta dos presidentes Emmanuel Macron, Vladimir Putin e Donald Trump pedindo o fim das hostilidades.
Os confrontos, porém, continuam. A principal cidade separatista, Stepanakert, foi atingida por bombardeios do Azerbaijão, causando “muitos feridos entre a população civil” e danos materiais, de acordo com o Ministério da Defesa da Armênia.
Sirenes de ambulâncias soaram por volta das 10h00 GMT na cidade, onde várias explosões foram ouvidas nas últimas horas, segundo um correspondente da AFP.
Em ambos os lados da frente, os moradores estão determinados.
“Não há medo, mas orgulho (…) Na guerra como na guerra. As negociações são uma besteira, é preciso uma capitulação”, diz Arkadi, de 66 anos, residente de Stepanakert, enquanto uma explosão é ouvida.
No distrito de Fizouli, no lado do Azerbaijão, as crianças foram evacuadas de localidades próximas à frente, de acordo com um fotógrafo da AFP. Muitos homens se ofereceram para lutar.
“Não temos medo, não temos muitos feridos”, disse Anvar Aliev, 55 anos, um taxista azerbaijano, pedindo a “retomada de nossas terras”.
O exército armênio acusou nesta sexta Baku de usar “munições cluster”, que são proibidas, enquanto o Azerbaijão alegou que jornalistas foram alvos de fogo de artilharia armênia em um vilarejo azerbaijano.
– “Linha vermelha” –
Macron, que tem relações difíceis com Recep Tayyip Erdogan, acusou na quinta-feira que 300 combatentes “jihadistas” deixaram a Síria para se juntar ao Azerbaijão via Turquia. Uma “linha vermelha” para o francês.
“Isso é desinformação”, respondeu o assessor da presidência do Azerbaijão, Hajiyev.
A Rússia havia relatado informações semelhantes, sem acusar diretamente Ancara, com quem tem uma relação complicada, mas pragmática.
Nesta sexta-feira, a porta-voz da diplomacia armênia voltou a afirmar que “o exército turco está lutando ao lado do Azerbaijão”. Alegações rejeitadas pelos interessados.
Uma intervenção direta da Turquia constituiria uma internacionalização deste conflito em uma região, o Sul do Cáucaso, onde várias potências estão em competição: Rússia, Turquia, Irã, países ocidentais.
Nagorny Karabakh, habitado principalmente por armênios, separou-se do Azerbaijão, levando a uma guerra no início da década de 1990 que deixou 30.000 mortos. A frente estava quase congelada desde então, apesar de alguns confrontos regulares, principalmente em 2016.
Ambos os campos ignoraram em grande parte os múltiplos apelos da comunidade internacional desde domingo para silenciar as armas.
De acordo com Moscou, Rússia e Turquia estão prontas para “uma coordenação estreita para estabilizar a situação” em Nagorno Karabakh.
Ancara não se manifestou, entretanto.
A Rússia mantém relações cordiais com os beligerantes, duas ex-repúblicas soviéticas, mas é mais próxima da Armênia, que pertence a uma aliança militar liderada por Moscou.
Nenhum lado parece ter conquistado vantagem sobre o outro.
Nesta sexta-feira, Yerevan garantiu que o exército azerbaijano “não conseguiu romper as defesas armênias”, enquanto Baku disse que havia tomado posições no norte e forçado os armênios a recuarem no sul.
De acordo com balanços parciais comunicados desde domingo, 190 pessoas morreram: 158 soldados separatistas, 13 civis armênios e 19 civis azerbaijanos. Baku não comunica suas perdas militares.
Mas o número de mortos pode ser muito maior: a Armênia afirma que 1.280 soldados azerbaijanos morreram, enquanto Baku afirma ter matado 2.300 soldados adversários.
Dois jornalistas franceses feridos na quinta-feira em Karabakh estão sendo retirados da região, segundo a diplomacia francesa.