A disputa pela prefeitura de São Paulo sempre se destacou pela sua imprevisibilidade, embora as reviravoltas históricas sugiram que surpresas são quase uma certeza. À medida que a eleição de 2024 se aproxima, essa tradição parece pronta para continuar, com os principais candidatos fazendo manobras estratégicas para limitar a entrada de concorrentes inesperados. O atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), conseguiu efetivamente excluir Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente, da corrida. Em contrapartida, Guilherme Boulos, cuja campanha recebe o forte apoio do PT e do presidente Lula, esforça-se para neutralizar a candidatura de Tábata Amaral.
Nunes, apesar de ser um nome ainda não amplamente reconhecido, encontra-se em uma posição intrigantemente vantajosa. Na política da cidade, onde a rejeição desempenha um papel crucial, sua relativa obscuridade pode, paradoxalmente, ser um ativo. Sua gestão, embora alvo de críticas, é percebida como moderada, e essa visão pode ser potencializada pela aversão ao seu principal rival, Boulos. É certo que apoio de Bolsonaro a Nunes pode, ao mesmo tempo, amplificar essa rejeição. As últimas pesquisas indicam um empate técnico entre Nunes e Boulos, ambos com cerca de 30% das intenções de voto, enquanto Tábata Amaral e o deputado Kim Kataguiri apresentam, respectivamente, cerca de 10% e 5%.
Observando as tendências históricas das eleições em São Paulo, não seria surpreendente considerar Tábata uma candidata em ascensão. Sua baixa rejeição, aliada à capacidade de dialogar com a centro-direita e centro-esquerda e a sensação de renovação que representa, sugere um potencial de crescimento para sua candidatura. O movimento político de esquerda já reconhece essa possibilidade, com esforços concentrados para que ela direcione seu apoio a Boulos. Entretanto, Tábata percebe a importância estratégica de uma candidatura bem-sucedida na maior cidade do país para suas ambições futuras, vendo uma aliança com o PSDB como uma oportunidade valiosa.
Diferentemente, Kim Kataguiri enfrenta resistência devido ao seu estilo político confrontador e focado nas redes sociais, recebendo críticas de todos os lados do espectro político. Seu nome enfrenta resistência tanto da esquerda, por conta da ideologia liberal do MBL, quanto da direita dominada hoje pelo bolsonarismo. Essa mesma direita provavelmente se oporá fortemente a Boulos, visto como um representante das causas mais tradicionais da esquerda. Apesar do apoio que o psolista poderia esperar em uma cidade que favoreceu Lula nas últimas eleições presidenciais, sua imagem agora como representante do status quo pode não ressoar como antes, levando o eleitorado a buscar opções alternativas.
Pessoalmente, antecipo uma provável disputa de segundo turno entre Nunes e Tábata, marcada por uma competição acirrada. A saída de Boulos seria ‘emocionar’ o processo, trazendo a discussão para um ambiente mais suscetível a paixões políticas, como tem sido regra nos últimos anos. Contudo, é crucial reconhecer que a dinâmica eleitoral brasileira está em constante evolução, tornando as eleições cada vez mais imprevisíveis, independentemente dos padrões históricos.