Quem seria esse personagem, e por que seu nome foi aplicado à principal avenida do Estado?
Por Francisco Mineiro.
Afonso Augusto Moreira Pena foi um político nascido em Minas Gerais em 1847 que chegou ao cargo máximo de Presidente da República, o sexto de nossa turbulenta História, e um dos responsáveis pelo progresso do sul do então Mato Grosso.
Descendente de família próspera, doutorou-se em Direito aos 23 anos, e passou a advogar. Notabilizou-se por defender escravos, e atuar como abolicionista. Aos 27 anos, 1870, foi eleito, pelo Partido Liberal, como Deputado Provincial em Minas Gerais.
Durante o Império, o Brasil era dividido em “Províncias”, que a República mudou para “Estados”. Quatro anos depois, elegeu-se Deputado Geral, o mesmo que Deputado Federal nos dias de hoje. Foi reeleito sucessivamente até a Proclamação da República. Entre outras ações, avançadas para sua época, defendeu a mudança de critérios para que o cidadão se tornasse eleitor, permitindo que mais pessoas votassem. Em 1888 foi um dos políticos que votaram pela aprovação da Lei Áurea, que extinguiu a escravidão legal no Brasil.
Com a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889, Afonso Pena considerou abandonar a política e concentrar-se na advocacia e no ensino. Mas logo foi eleito para a Assembleia Constituinte do Estado de Minas Gerais. Finda a transição de Província para Estado, todos os partidos estaduais se uniram numa única chapa para eleger Afonso Pena seu primeiro Governador. Ele fez a lei que criou a nova e moderna cidade de Belo Horizonte para ser a capital estadual, substituindo Ouro Preto. Foi um dos fundadores da Faculdade Livre de Direito, que hoje faz parte da Universidade Federal de Minas Gerais, centro de excelência em ensino de direito no Brasil até os tempos atuais.
Após seu mandato de governador, exerceu diversas funções públicas, inclusive presidente do Banco do Brasil. Em 1903, o Vice-Presidente da República Silviano Brandão faleceu. O Presidente Rodrigues Alves nomeou Afonso Pena como Vice-Presidente, função em que permaneceu até ser eleito Presidente com 97% dos votos válidos. Tomou posse em 1906.
Entre a eleição e a posse, fez algo inédito na História da República: viajou por todo o país, visitando dezoito capitais estaduais em 21.000 km de jornada, num tempo em que os transportes eram embarcação, trem ou carroça.
Era uma época de política marcada pelo “Coronelismo”, a troca escancarada de favores entre os diversos níveis do poder. Mas, mesmo numa situação tão desfavorável a uma administração sadia, Afonso Pena teve notáveis realizações. Incentivou a imigração, adotando como lema “Governar é povoar”. No mesmo conceito, estimulou a ampliação da rede ferroviária, fundando nossa conhecida Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, a importantíssima artéria de transportes que vai de Bauru até Corumbá. A economia do Sul do Mato Grosso prosperou com esta decisão. Possivelmente foi este fato que levou os políticos locais a homenagearem Afonso Pena, quando da morte do grande político, nomeando a avenida central de Campo Grande.
Ainda pensando em transportes, Pena realizou as ligações que faltavam entre as ferrovias do sudeste e do sul do Brasil. Também interligou a Amazônia ao restante do país por telégrafo instalado pela famosa Expedição Cândido Rondon. Cabe uma breve meditação que, antes da chegada do telégrafo, qualquer região, cidade ou pessoa só se comunicava com outras por carta. Eram dias ou semanas de transporte na ida e na volta – e o telégrafo é instantâneo. Isso muda tudo.
Na economia, adotou medidas para manter a estabilidade da moeda, adotando o Padrão Ouro e trabalhando pela valorização do café, principal produto brasileiro exportado. Melhorou os portos, e incentivou a modernização das principais cidades.
Pena afastou-se da troca de favores, começando com a nomeação de Ministros técnicos e jovens, e não velhos políticos indicados pelos Partidos. Também, suas medidas administrativas e econômicas, em favor do progresso, contrariaram interesses de poderosos da época. Assim, enfrentou crescentes dificuldades e embates políticos quando da época da sucessão. Esse desgaste, mais a morte precoce de um de seus filhos, impactaram sua saúde. Uma pneumonia o matou em 14 de junho de 1909, antes de concluir o mandato, e assumiu o vice, Nilo Peçanha.
Para a História recente, em que tivemos Presidentes semialfabetizados, levemente amalucados(as), o esforço um homem à frente de seu tempo, Afonso Pena, pelo progresso do Brasil é um exemplo a ser lembrado.