A capital do Pantanal sul-mato-grossense, Corumbá, foi o primeiro destino do Núcleo ESG da Fiems para realização de etapa de mapeamento de práticas sustentáveis nas indústrias de Mato Grosso do Sul. Na semana passada, a equipe se reuniu com autoridades locais e visitou empresas para debater o desenvolvimento de ações ambientais, sociais e de governança, além de conscientizar sobre a aplicação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU).
Responsável por abrigar uma das mais importantes extensões úmidas contínuas do mundo, com riqueza de fauna e flora, a cidade possui economia diversificada, com predomínio da mineração, pesca, turismo, comércio e serviços.
De acordo com a assessopra do Núcleo ESG da Fiems, Cláudia Borges, é muito importante que as empresas adotem formas de atuação que estejam em sintonia com o potencial ambiental da região. “Nossa estratégia inicial é visitar as indústrias para mapear as boas práticas de sustentabilidade e ESG, além de identificar oportunidades de atuação do núcleo na consolidação de processos socialmente conscientes, sustentáveis e corretamente gerenciados”, explicou.
O projeto pretende gerar conteúdo à iniciativa “Banco de Boa Práticas ESG das Indústrias de MS”. A partir dos dados, será possível a elaboração de relatórios com as iniciativas, além de gerar ideias para serem adotadas pelas empresas.
Novas práticas na mineração e no abate de bovinos
Empresas relativamente jovens possuem a oportunidade de pensar em processos de produção em sintonia com as legislações mais atuais e com as exigências dos novos mercados internos e externos, desde a fase de planejamento das atividades. É o caso de uma das empresas visitadas pela equipe do Núcleo ESG, em Corumbá.
A 3A Mining está há dois anos instalada na cidade e é uma empresa cuja atuação é voltada para o minério de ferro. Suas reservas tem 100 milhões de toneladas. A capacidade instalada permite a produção de 1,5 milhões de toneladas por ano de minério premium e já há uma expansão em curso para dobrar a produção em 2023, atingindo 3 milhões de toneladas por ano.
Entre os principais diferenciais da empresa, em relação a outras do segmento no município, está a realização do processo produtivo sem a utilização de barragens de rejeitos e com menor consumo de água para a lavagem do minério, de forma a melhor preservar o meio ambiente e garantir a segurança dos trabalhadores e das comunidades no entorno.
De acordo com a gerente de sustentabilidade da empresa, Marcela Gomes, produzir com base nas melhores práticas do mercado, incluindo governança e respeito ao meio ambiente é justamente um dos valores da 3A Mining. “Seguimos uma série de guias de sustentabilidade, entre eles o Pacto Global, da ONU, e estamos estruturando nossa política, com a finalidade de disponibilizar o relatório ao público”, enfatizou.
A analista de meio ambiente, Anny Arruda, e o gerente de saúde, segurança e meio ambiente, Juercio Lopes, apresentaram algumas das práticas adotadas pela mineradora para minimizar os impactos da produção.
Além de trabalharem com o reuso da água, há a manutenção de um viveiro com capacidade de abrigar até 30 mil mudas nativas da região. As plantas são utilizadas para atender projetos de recuperação de áreas degradadas, plantio compensatório das espécies protegidas e projetos de educação ambiental.
Antes de ser utilizada para extração de minério, a área destinada para etapa passa por um processo de resgate da fauna, que inclui ações de afugentamento e até captura de algumas espécies, como répteis. Após cerca de 6 a 8 meses de lavra, é iniciado o processo de recuperação do terreno para voltar a integrar o bioma da região.
A empresa ainda conta com gestão de resíduos sólidos, coleta seletiva, incluindo a destinação final dos resíduos, coleta de efluentes sanitários e a reutilização de água para umidificação das vias que dão acesso à mina, atendendo, assim, as comunidades locais.
Perspectivas de produção mais sustentáveis também foram verificadas na indústria alimentícia da região. A EMA – Empresa Marinho de Agropecuária é especialista na pecuária de corte e faz o ciclo completo da produção. O condomínio familiar iniciado em Corumbá, em 1985, se formalizou comercialmente em 1995.
De acordo com a gerente de RH, Francielle Vieira, o grupo é composto por 20 propriedades rurais. Há cinco anos, a unidade funcionava como filial e agora se consolida a atuação com a inauguração de frigorífico próprio. “Está entre os valores da EMA produzir carnes de maneira sustentável para o mundo”, enfatizou.
Entre as características da pecuária da empresa está o respeito ao ciclo das águas no Pantanal, onde o gado tem oferta permanente de pasto, além de estar o tempo todo integrado à natureza. O frigorífico conta com estrutura completa, com tecnologia de ponta e equipe altamente capacitada. Entre os diferenciais, está a localização dentro de uma das fazendas, possibilitando que o gado caminhe até o abate sem o desgaste do transporte.
Ações das unidades Sesi e Senai e incentivo à cultura como prática ESG
Visitas também foram feitas nas unidades Sesi e Senai, que compõem o Sistema Fiems, em Corumbá. Tanto as escolas de ensinos fundamental e médio quanto os centros de formação profissionalizante podem adotar práticas sustentáveis e servir de inspiração para as próprias indústrias.
A diretora da Escola Sesi, Thaiani Fontes, ressaltou a promoção de iniciativas como a suspensão do uso de copos descartáveis entre os mais de 480 alunos que frequentam a unidade. “Implantamos a cultura de cada um trazer a sua garrafinha”, explicou. A Equipe de Robótica também encampou ação de arborização do entorno do colégio em parceria com a Fundação de Meio Ambiente e Prefeitura de Corumbá.
No Senai, o foco é a formação de mão de obra para atender as indústrias locais de forma qualificada. De acordo com o consultor de Negócios da unidade, Paulo Madson, há inscrições abertas para os cursos técnicos de mecânico industrial e eletromecânico de equipamentos móveis. “A mão de obra tem sido um grande desafio na região”, explicou. Segundo eles, as empresas também buscam por técnicos em segurança do trabalho.
A iniciativa do Núcleo ESG também permite identificar iniciativas locais que futuramente podem ser apoiadas pelas indústrias como forma de desenvolver ações em favor da comunidade. A equipe da Fiems conheceu, por exemplo, o Instituto Moinho Cultural, que atende mais de 400 crianças e jovens em dois turnos.
Inaugurado em 2004, com sede do Porto Geral, principal cartão postal da cidade, a instituição tem como meta o desenvolvimento de crianças e adolescentes em região de fronteira, através do acesso a bens culturais e do fortalecimento da qualidade da educação formal. O projeto inclui e interage socialmente participantes de Corumbá, Ladário e das cidades fronteiriças de Puerto Suarez e Puerto Quijarro.
Mais de 20.000 pessoas foram impactadas diretamente pela iniciativa desde a criação. Hoje o Moinho Cultural possui consolidados a Orquestra de Câmara do Pantanal, a Cia de Dança do Pantanal e o NUTEC- Núcleo de Tecnologia do Moinho Cultural.