A Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS) promoveu na manhã desta sexta-feira (24), o IV Seminário Estadual da Água, em alusão à Semana Estadual da Água, instituída pela Lei Estadual 4.878/2016, de autoria do deputado Renato Câmara (MDB), propositor do evento que ocorreu no Plenário Júlio Maia. O tema desta edição foi “Caminhos para a Produção de Água em Mato Grosso do Sul” e você pode rever a cobertura completa pela TV ALEMS, Youtube, Facebook, Rádio ALEMS e Site Oficial, onde você também poderá acessar o Banco de Imagens do evento.
Renato Câmara abriu o debate ressaltando que são necessárias ações estratégicas para que o produtor da matriz econômica do agro não se afaste da sustentabilidade. “Sem água não existe produção, nem vida. Como ela não nos falta, às vezes, não damos muito valor igual a quem tem falta de água como no Nordeste, mas para continuarmos a sermos essa caixa d’água deve se ter um empenho estratégico e união de vários entes, como os que reunimos hoje aqui, produtores, universidades, órgãos de controle, empresas que utilizam recursos hídricos, entre outros. Obrigada a todos pela participação”, agradeceu o deputado é engenheiro agrônomo e coordenador da Frente Parlamentar de Recursos Hídricos.
Dentre as falas de abertura, a do reitor da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), prof. dr. Jones Dari Goettert, trouxe a seguinte reflexão. “Ou protegemos ou não teremos nada. Porque o meio ambiente já diz: é meio, metade. E a outra metade somos nós, seres humanos, os responsáveis. Qual é a metade responsável de proteger as nascentes, o solo, o ventre, que protege tudo? Estar aqui é ouvir também a voz de quem passa sede”, disse.
O secretário de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia e presidente do Conselho Estadual de Recursos Hídricos, Jaime Verruk ressaltou que a melhoria de gestão é necessária para evitar ainda mais danos. “No futuro vai haver conflito de capacidade de água. A política pública vai ter que decidir se a água vai para o consumo, se vai para tratamento ou irrigação. As áreas urbanas, habitação irregular na beira de córrego, que comprometem a qualidade, são outras preocupações que temos que olhar na visão ampla, no conjunto de ações para alterar legislações, para que possamos ter estado rico em água, mas mantendo a qualidade para as gerações futuras”, ressaltou.
O presidente da Sanesul, concessionária de saneamento e água de Mato Grosso do Sul, engenheiro civil Renato Marcílio da Silva, explicou que a água utilizada pela sociedade só volta para os rios depois de tratada. “Depois da água usada, captamos e tratamos novamente para devolver bem parecida com a que pegamos. São 11,3 bilhões de litros por mês ao Estado, com 625 mil ligações de água, sendo que 50% disso é esgoto. Temos várias metas no Plano Nacional do Saneamento para 2033, mas quero comemorar que, o que seria obrigação, já pretendemos implementar antes, até no máximo 2027. Isso é preservação do bem-estar e do meio ambiente”, enalteceu.
Palestras
As palestras foram abertas pelo superintendente da Agência Nacional das Águas (ANA), doutor em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos, Jorge Werneck, que contou sobre as ações de gestão integrada com financiamentos coletivos, pagamentos por serviço ambiental e uso tecnologia. “Até mesmo o whatsapp hoje nos ajuda. Às vezes envio: preciso que feche o canal da bacia, porque tá faltando água para abastecer a cidade. Aí o outro responde para esperar umas horinhas para pedir para os produtores irrigarem a lavoura antes para conseguir aguentar um dia sem, aí já dá tempo de chover. Quanto vale isso? Demais. Antes era um botando a culpa no outro, uma confusão danada. Hoje a pergunta é: qual é o futuro da gestão integrada? Precisamos envolver pessoas de fora do setor da água também. Desde o jovem ao velho, de diferentes países, envolver todos. Porque saúde tem a ver com água, economia tem a ver com água, tudo tem. Não é brigar, é integrar”, explicou.
Ele detalhou que essa integração deve vir dos produtores de infraestrutura, do desenvolvimento rural sustentável, da organização da cidade e da capacitação da educação. Além disso, apresentou sobre a possibilidade de ser produtor de água e de alimentos ao mesmo tempo. “Os agricultores deixam de ser considerados ‘vilões’ da natureza e se tornam parceiros da gestão dos recursos hídricos. Fazem a transformação ecológica da região a ponto de relatar o retorno de animais silvestres com satisfação. Aproximam o rural do urbano, aumentam a renda e a qualidade de vida. É um projeto que estão implementando em outros lugares do mundo”, contou o representante da ANA.
Dentre as ações dos produtores de água estão a readequação de estradas rurais, barraginhas, conservação florestal e do solo, restauração ambiental, captação da água da chuva – saiba mais sobre o programa clicando aqui e aqui tem um manual. Entre 340 projetos, o Programa de Gestão Integrada de Recursos Hídricos para a promoção de paz, ganhou em 2º lugar do mundo. São mais de 60 projetos espalhados pelo Brasil, com R$ 45 milhões em recursos e mais de 2.500 produtores.
Outra palestra foi a do engenheiro da Itaipu Binacional, Anderson Braga Mendes que explicou que toda região sul-mato-grossense corresponde por 7% da vazão de água da usina, que é o insumo para a produção de energia elétrica. “Além dessa importância de água, temos uma preocupação com os sedimentos de solo, como argila e areia, em que o MS corresponde com a ordem de 22% do total, que são transportados pelos rios daqui para o Rio Paraná que vai tudo para Foz do Iguaçu. Então todas as medidas que puderem ser tomadas para evitar o assoreamento são necessárias para que não chegue na Itaipu e prejudique a produção de energia elétrica de todo um país. Lá abastecemos várias partes do Brasil, incluindo os grandes polos industriais. E prejudica não só a gente, mas também o Paraguai, onde somos responsáveis por 90% da geração total de energia total de lá. Temos que tomar medidas urgentes para os próximos 20 anos”, ponderou.
Ainda tiveram falas do gerente de recursos hídricos do Imasul, Leonardo Sampaio Costa, que palestrou, entre outras coisas, sobre o enquadramento do uso de água; a palavra do indígena, João Leôncio, morador da aldeia Mãe Terra do município de Miranda, que falou da importância de pensar no futuro da humanidade com a preservação das nascentes, como fazem em sua aldeia com a manutenção da floresta e reflorestamento; de Ana Luzia Abrão proprietária de RPPN Ernesto Vargas Baptista, da importância do regime de perpetuidade de uma reserva ambiental; e do presidente do Comite de Bacias do Rio Miranda e produtor rural em Bonito, Eduardo Coelho, sobre a luta de preservar Bonito e Jardim há mais de 25 anos.
O evento foi mediado pelo professor doutor Leandro Marciano Marra, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. “As leis beneficiam muito a preservação e o desafio agora, em resumo, é que precisamos captar mais recursos para as novas ideias serem implementadas”, finalizou Leandro. O IV Seminário reuniu autoridades e membros de 35 instituições, como Iphan, Imasul, Rotary Club, Crea-MS, Assomasul, UFMS, Defensoria Pública, entre outras, além dos alunos da Escola Estadual Maria Constança de Barros e participantes online pelo Youtube, além de apresentação do Coral de Servidores da ALEMS. Reveja na íntegra clicando aqui. Veja sobre a primeira edição do evento e a Carta da Água, o segundo evento com o lançamento de um Livro e o terceiro Seminário aqui.